por Teresa, em 28.04.14
No outro dia a minha irmã estava-me a contar mais uma das muitas histórias dos meus sobrinhos,que eu acho deliciosas, desta vez relacionada com o facto de saber, ou não , gerir o seu próprio dinheiro desde pequenino, e eu lembrei- me de fazer um post sobre a questão .
Será mesmo que é "de pequenino que se torce o pepino"?
A Maria sempre foi uma criança e,depois uma adolescente, responsável, que nunca fez birras ou teve amuos por não lhe darmos isto ou aquilo, mas, talvez, porque sempre teve tudo aquilo que pedia, e... nunca nada lhe foi negado!
E isso talvez por ser filha única, talvez por nunca ter pedido nada de muito impossível,talvez porque sempre pudemos satisfazer-lhe os desejos ou ,simplesmente porque somos uns papinkas que não conseguimos dizer "não".
A Maria, nunca comprou nada sem nos pedir autorização, mas sempre que ligava para o papinka a perguntar se podia comprar isto, ou aquilo,, a resposta era sempre: " agora estou numa reunião, não dá para falar! Mas compre! Depois fazemos contas!"
A Maria até brincava com a situação e dizia que o papinka nem a ouvia ... A resposta acabaria por ser invariavelmente a mesma, quer lhe estivesse a pedir uma simples roupinha, quer um carro de topo de gama:"compre!"
Pois com os meus sobrinhos a coisa é diferente, desde logo pelo facto de serem 3 : a Nena de 12 anos, o Zé de 8 e o Manel de 7.
É muito difícil aos pais de famílias numerosas satisfazer os caprichos de todos os filhos! É impossível financeiramente e desgastante física e psicologicamente!
Sempre percebi que os pais com muitos filhos definem regras, desde a mais tenra idade dos seus rebentos, sobre o que podem pedir, o que podem gastar, ou comprar.
Depois de um certo limite .... Stop!
Desde cedo eles aprendem que, caso queiram alguma coisa extra têm de juntar dinheiro , até conseguirem obtê-la!
Os meus sobrinhos têm um porquinho mealheiro onde vão colocando todo o dinheiro que nós, família e amigos, lhes vamos dando para depois poderem comprar o que mais lhes apetecer!
E há coisas para as quais querem muito juntar dinheiro....outras porém....nem por isso, e nem sabiam que também essas (menos importantes do que as outras) lhes exigiam ter dinheiro amealhado para dar em troca!
Pois é....
No último fim de semana os meus sobrinhos tiveram uma vontade súbita de pipocas e todos queriam ir , ao centro comercial ao pé de casa,comprar um pacote dos grandes,para cada um deles.
- sim senhora , disse-lhes a mãe. Mas cada um de vocês vai ao seu porquinho mealheiro e tira uma moeda de 1 euro e outra de 50 cêntimos para poderem pagar as pipocas.
A mais velha foi buscar o dinheiro, sem demoras. O Zé pediu para repetir quanto é que afinal custavam as pipocas e .... quase a ferros, retirou as moedas do "porco" necessárias para entregar à mãe .
Foi,então, que se ouviu o mais novo primeiro a resmungar baixinho" livra...logo duas moedas"e, depois ,virar- se e dizer:
- " oh mãe... esqueça...porque eu afinal não tenho fome!"
O Manel não comeu mesmo as pipocas.
Mas a mãe também não disse " coitadinho, vá lá comprar, que eu pago" ...
Aprenderam que , infelizmente, se queriam muito uma coisa , tinham de ficar mesmo sem aquelas moedinhas tão valiosas que afinal lhes tinha dado tanto trabalho a juntar!
por Teresa, em 25.04.14
Quando se tem uma filha única a estudar fora e , não havendo mais irmãos a exigirem a nossa atenção de pais (como acontece neste caso ) é inevitável que toda aquela que temos se concentre nela.
E isso é terrível para os dois lados: para ela, que gosta de mimos mas...que preza muito o seu espaço ( e com razão); para nós que, acabamos por nos preocupar com coisas que, valha-nos Deus, não têm a menor importância...
A nível de estudos nunca a Maria nos deu o menor problema: sempre teve o seu próprio método de estudo, muito eficaz na verdade, porque sempre teve óptimas notas, de que sempre nos orgulhamos!
E nesse assunto nunca foi preciso sequer metermos o nariz!
Acontece que, desde que a Maria está a estudar fora,não sei se, por causa da minha ansiedade , se devido à distância e às enormes saudades, transformei-me numa maminka ralada com tudo!
E a coisa é de tal forma grave que a mim me parece que estou a fazer o curso de Medicina, com a Maria, depois de já ter feito o meu próprio curso, há uns bons anos atrás!
E se eu já era uma pilha de nervos no primeiro curso, ainda estou muito pior neste segundo!
Fico nervosa só por sentir que a Maria o está!
Ou porque , através do viber ,a Maria diz coisas que me inquietam, sem razão para tal. Coisas do género:
-"só estudei 10 páginas,mas deveria ter estudado 30"
Ai .. que horror- penso eu- e se não tem tempo para estudar tudo????
( Mas ...o que sei eu acerca da quantidade da matéria que ela tem de saber, ou do ritmo que ela imprime ou, tem de imprimir , no estudo????????);
Ou
-"só sei de cor 20 fórmulas e ainda me faltam 40"
Ai coitada !Fórmulas???? Pavorento ! Eu não decoraria nem uma ! Sempre odiei físico- química!
(Quem tem de saber aquilo é a Maria, não eu! Eu detesto essas matérias e,por isso, fui para a área de letras . Mas ela gosta.... e escolheu ciências....Ah!!!!! Pois....);
Ou ainda:
- "Não vou ter tempo para decorar tudo";
Tem toda a razão -penso eu já nervosa- quem consegue impinar aquelas coisas tão esquisitas?!
( Mas ...esperem lá...se não tem tempo deverá ser ela a ver o que fazer para ultrapassar essa questão. Não eu! )
E a coisa não fica só por aí. Chego a viver dias seguidos, de altos e baixos porque parece que a ansiedade dela se cola à minha e gera momentos de um nervosismo incrível!
É que num dia o contacto com a Maria é positivo,até nos chega a dizer "acho que vou conseguir ! "e no outro dia já é do género : "Escutem: Preparem-se porque eu vou chumbar e ...vou ter de regressar a Portugal!"
E ....finalmente, no dia do exame , depois de eu ter rezado a todos os meus Santinhos e de não ter dormido nada, nem deixado o papinka dormir , ela envia-nos uma mensagem super excitada a dizer: "Meninos... Estão aí? Passei com A ! Não foi o máximo ? "
Geralmente a acompanhar a boa notícia vem uma selfie com uma Maria radiante e super feliz!
Ao fim deste ano e meio aprendi a não deixar que esse tipo de coisas me cause ansiedades extremas e sem qualquer motivo!
Na verdade, todos nós já tivemos de lidar , pelo menos uma vez na vida,com os nossos medos, as nossas dúvidas e angústias!
Agora é a vez da Maria gerir tudo isso, nesta fase de estudante do ensino superior.... E o desafio maior é sem dúvida o facto estar longe da sua família e amigos,do seu País e tudo se passar numa língua que não é a sua.
Nós os "papinkos "vamos estar sempre cá para apoiá-la...mas sem exageros e, na dose certa...para que ela consiga levar o barco a bom porto!
E...tenho a certeza que, isso , ela vai conseguir!
por Teresa, em 18.04.14
Aqui está mais uma das minhas invenções linguísticas . Encontro de "papinkos"não é mais do que o encontro entre uma maminka ( eu) com um " papinka" ( palavra que eu inventei para pai,embora a verdadeira tradução para checo seja tatinek), ambos com filhos que emigraram !
Achei, então, que soava bem a palavra papinkos" para significar : pais de emigrantes.
Na sexta feira passada, ao fim da tarde, quando me dirigia ao carro,para finalmente começar o meu fim de semana,encontrei dois colegas que trabalham no mesmo sítio que eu, com quem sempre simpatizei, mas com quem não tenho um grande grau de confiança!
Aliás, acontece isso com grande parte das pessoas junto de quem trabalhamos, meses ou mesmo anos a fio:falamos do trivial mas não sabemos nada da vida uns dos outros! Somos conhecidos, mas não amigos!
Conversa puxa conversa.... Começamos por comentar o facto de estarmos todos com muito traballho e pouco tempo para a nossa vida pessoal!
Às tantas ouvi-me dizer: a minha filha Maria ( que está a estudar fora) esteve cá em Portugal, durante uma semana e eu fiquei com a sensação de que,praticamente, nem tempo tive para lhe dar os mimos guardados para quando estivéssemos juntas ! Agora só me resta o Skype, outra vez!
As coincidências entre mim e um daqueles meus colegas começaram aí : que giro que era ....também ele tinha um filho a fazer um mestrado...na Europa...que também era filho único..que era pouco mais velho do que a Maria...patati...patatá.... que também falavam quase todos os dias, através do milagroso Skype ....que as saudades eram muitas...
Mas o que mais me enterneceu foi reparar que os olhos dele se encheram de lágrimas quando me tentou explicar e descrever o difícil que foi o dia em que o filho partiu.... E como nos compreendemos naquele momento! Sabia tão bem do que ele estava a falar! E o engraçado é que qualquer maminka ou papinka que se preze se refere ao dia da partida do seu emigrante, como se tivesse sido ontem....porque podem passar meses, anos...mas esse momento fica marcado nas nossas vidas, para sempre!
Apesar do nó na garganta ...e do disfarce para não chorar, adorei este encontro de "papinkos" que, sem saberem, tinham afinal duas coisas em comum : um orgulho infindo nos seus mais-que-tudo- na vida e uma saudade infinda de não os ter mais vezes por perto!
por Teresa, em 10.04.14
Todos os pais de emigrantes, são assaltados, a dada altura, por uma dúvida que mexe com a sua paz de espírito e faz tremer as suas certezas : será mesmo que findos os estudos os nossos filhos regressam a Portugal?
Ao longo do tempo vamos tendo indícios que tanto nos fazem pender para um lado, como para o outro : Ah... está a dizer isto porque de certeza que vai voltar ou, então.... se está a falar assim desta forma...não volta mais....
Esses indícios são como que pequenos focos de incêndio que, se formam aqui , acoli.... E que nos atormentam a alma !
Para voltarmos à nossa tranquilidade habitual e acabar com pensamentos negativos,não há nada como irmos apagando esses pequenos fogos, à medida que os mesmos vão surgindo .
Foco de incêndio 1
-Conheci uns estrangeiros que são o máximo! -diz a nossa filha! ( o fogo está ateado!)
Ai...socorro...que a minha filha está a simpatizar com tudo que é estrangeiro -penso eu - e digo :
-Sim,mas não há como os portugueses ! A mim nunca me passou pela cabeça casar com um estrangeiro!( tentativa de apagar o fogo)
-Tem piada : eu não me importava nada !- ouço-a responder, percebendo que a minha tentativa tinha falhado!
-Ah ! Olha o Salvador, ou o Frederico! Esses sim... Agora um estrangeiro ?!!!!! Nem sabemos bem o que estão a pensar....Ainda se fosse o Brad Pitt ...- insisto eu , na esperança de que mude de opinião!
-Mm .... és capaz de ter razão, maminka! É preferível um português! - conclui ela.
Foco de incêndio apagado,a pulsação volta ao ritmo normal e ....o coração começa a bater compassadamente!
Foco de incêndio 2
-Tive excelente na cadeira daquele professor que me adora e ele até me disse que qualquer dia posso vir a ser monitora! ( outro foco de incêndio ateado)
-Mas... não estou a perceber-digo eu , ao mesmo tempo que sinto o coração começar a bater forte e a pulsação a acelerar :serias monitora enquanto tiras o curso ou, depois de o tirares?
- Para já enquanto faço o curso!
Ufa ! Então quer voltar a Portugal- penso eu! Acho que este foco de incêndio está extinto!
Foco de incêndio 3
-Este país é lindo! Adoro neve! -começa a nossa emigrante por dizer , dando origem a m novo foco de incêndio! Posso patinar, esquiar ...e fazer montes de coisas fantásticas! -continua.
(Vai querer ficar no novo país- penso logo eu!)
-Sim...mas não te esqueças que em Portugal tens as praias , que tanto adoras!- contraponho eu
-Ah...sim é verdade! Eu amo a praia , o sol, o mar e estar bronzeada!
Boa! -penso-Portugal ainda é o país de eleição, sem dúvida!!!!! Fico serena e feliz !
Mas ao certo, ao certo, nem nós sabemos, nem ela sabe!....
O futuro é perito em reservar-nos surpresas !
Depois há o meu coração de maminka que me faz acreditar que ela um dia vai voltar ! É isso que sinto quando a ouço dizer:
" quero Portugal de volta" , "estou quase aí... ", "quero praia , já! ", " morro de saudades vossas "
E eu sei que sim......ela vem....ela volta!
por Teresa, em 08.04.14
Por falar em aeroportos, aviões, hospedeiras ,lembrei-me deste filme de 1980 que é a perdição da maminka, do papinka e da nossa emigrante: " O aeroplano".
As férias de verão só ficam completas quando revimos este filme pela milésima vez !
Rimos sempre como se fosse uma estreia absoluta,dobramos o riso e no final, ficamos com a sensação de um serão muito bem passado!!!!
por Teresa, em 04.04.14
Sempre tive uma empatia muito grande com a " Anita"!
Quem,como eu,cresceu com os livros da " Anita" sabe bem do que eu falo.
Não me lembro qual foi exactamente o primeiro livro que tive na vida . Mas se me perguntarem qual o primeiro de que tenho memória , diria : " Anita,dona de casa" .
Foi-me oferecido pela minha madrinha e eu adorava folheá-lo detrás para a frente!
Gostava tanto daquele livro que acho que criei uma falsa esperança na minha maminka de que, provavelmente, viria a ser uma dona de casa perfeita. Mas....não! Longe disso! Provocou até um efeito adverso em mim...mas isso agora não interessa nada!
Quem me fascinava muito era a própria Anita, que sorria a tempo inteiro, fazia muitas coisas e ajudava quem mais precisasse. Adorava também o cão que ela tinha: o Pantufa!
E foi com esse mesmo entusiasmo que fui lendo todos os livros da colecção : "Anita e as 4 estações ( que hoje em dia já está out porque só temos mesmo duas estações: verão e inverno) "Anita na escola","Anita no supermercado", "Anita mamã"em que ela ajudava a tratar dos irmãos .... Enfim...Anita em todo o lado....
É fantástico como nem precisei de ir à net procurar ou confirmar os títulos dos livros: sei-os todos de cor!
Hoje já não sou mais aquela criança que devorava as histórias da "Anita" mas trago-a à pedra porque no outro dia vi no facebook que a foram desenterrar, e inventaram um título adequado aos dias de hoje! E eis que surgiu "Anita procura emprego no estrangeiro!"
Fiquei,então,duplamente emocionada: recordei aquela imagem da Anita alegre,bem disposta e sempre jovem( velha estou eu!) e, lembrei-me, que tal como os nossos filhos, também "a Anita" não conseguiu escapar à crise e precisou de emigrar!
Nostalgia de mais para uma maminka!!!!!