por Teresa, em 28.05.14
Acabei agora de ler um livro, de um autor brasileiro, Francisco Azevedo,que adorei, adorei, adorei! Chama-se "Arroz de Palma" e, está maravilhosamente bem escrito.
É um romance que conta a história de uma família brasileira com sangue português,que emigra para o Brasil, ainda no século XX e ali se instala, de armas e bagagens, casa, tem filhos, netos e vive os altos e baixos de todas as famílias.
Na verdade, acompanhamo-la ao longo de um século.... que para nós, leitores, passa num abrir e fechar de olhos, devido a passagens tão deliciosas como estas, que se seguem;
..."colecciono alguns guardados preciosos que, quando eu morrer, serão jogados fora porque só fazem sentido para mim. A memória material deles começa e acaba em mim. Só a mim eles emocionam.Só eu lhes estimo o valor... Mas algo me diz que em qualquer casa...haverá sempre uma caixa ou gaveta onde se esconde aquele papel de bala, que foi desembrulhado no cinema ao lado de quem nos desperta paixão.Ou o desenho da família mal colorido por fora...ou a rolha do champanhe do ano novo especial....
Fico cismado : o que aconteceria se nos fosse possível somar todo o amor que há nessas inúmeras memórias guardadas em silêncio nos fundos das gavetas do mundo?"
Ou
"Papai interrompe a leitura , vai directo espalhar a novidade. Uma família simples como a nossa não tem muito que contar. São esses acontecimentos banais , que só se tornam únicos quando nos dizem respeito.Por isso, noticia assim, de repente, do filho que volta, é mais importante que o fato mais importante de toda a humanidade! E a gente começa a viver o abraço antes do abraço. A voz, o cheiro, o pegar, o colar o rosto e dar muitos beijos, muitos,muitos, muitos.que o filho foi feito mesmo para beijar. E em momento assim de reencontro, a gente aproveita e os sufoca de tanto carinho. Que em momento assim eles deixam e não se importam".
Ou ainda:
"Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema - principalmente no Natal e no Ano Novo.
Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um.Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes dá vontade de desistir.....
Família é prato que, quando acaba nunca mais se repete....."
Quando gosto de um livro, devoro-o, com sofreguidão, no início e depois, quando vejo que estou quase a chegar ao final, abrando o ritmo da leitura, saboreio vagarosamente cada página, para que aquela história, em que eu entrei quando o comecei a ler e, da qual já faço parte, demore muito tempo até chegar ao seu final.
É que, a dada altura, todos aquelas personagens que nos acompanham desde o início, passam a fazer parte da nossa vida e custa horrores ter de os deixar partir.... !
Recomendo vivamente a leitura deste livro, que é o máximo!
Palavra de maminka!
por Teresa, em 27.05.14
Sou uma maminka que adora ler!
Passo, aliás, a vida a comprar livros, seja cá, seja no estrangeiro!
Adoro entrar nas livrarias e, vagarosamente, folhear este e aquele livro, ver as novidades e, rara é a vez , em que saio de lá de mãos vazias.
Tenho de ter sempre um livro na mesinha de cabeceira para ler à noite! Aliás, não um, mas dois ou três, isto porque, nos últimos anos, anda-me a acontecer um fenómeno estranho que eu julgava que se passava só comigo mas que, afinal, acontece com mais gente e que consiste em ler, ao mesmo tempo, mais do que um. Agora estou a ler um do Ken Follett, outro de um escritor francês, David Foenkinos, e a reler um policial da Patricia Highsmith (que amo incondicionalmente).
É um pouco estranho, mas resulta e não me chego a aborrecer com tanta variedade, ao passar de uns livros para os outros, consoante o meu estado de espírito .
Gosto de quase todo o género de temas excluindo os relacionados com vampiros, extraterrestres ou.... com o mundo da fantasia! O mesmo se passa com os filmes !
Gosto imenso de romances, biografias, policiais , crónicas..mas essencialmente gosto de ler coisas que me deixem muito bem disposta e me façam sair um pouco da vida rotineira, de todos os dias .
Já o papinka gosta de coisas tristes, relacionadas com a morte, as dúvidas metódicas sobre quem somos, para onde vamos e... coisas assim....pesadas e que dão uma vontade terrível de chorar!
Eu sei... eu sei ...o papinka é muito mais profundo do que eu....mais do género intelectual....mas eu prefiro coisas que me façam sentir imensamente feliz!
por Teresa, em 17.05.14
Às vezes pergunto à Maria sobre os dotes culinários das amigas que lá estão a estudar e ela diz sempre:
- "Olha, mummy, ninguém tem jeito e são muito poucas aquelas que gostam de cozinhar!"
E explicou-me que, em geral, ou as maminkas as vão visitar e, lhes deixam refeições congeladas, ou conseguem safar-se todas recorrendo à chamada " fast food"!
Não tenho dúvida nenhuma que nestas novas gerações quem cozinha melhor são os rapazes! As raparigas não estão nem aí!
Bem ....aqui para nós,que ninguém nos ouve, confesso que na minha família, à excepção da minha mãe (que é excelente cozinheira) são os homens os verdadeiros Chef de cuisine!
Sim.....eu e as minhas irmãs somos uma verdadeira catástrofe !
De tal forma que, quando andei a fazer experiências culinárias, antes do meu casamento, o meu pai ( que é um santo e não se queixa de nada) chegou mesmo a pôr-se de joelhos e pedir-me que acabasse com aquilo de uma vez por todas, porque tinha saudades da comida feita pela minha mãe! Também eu!
Nem sequer fiquei magoada porque reconheço o desastre que sou na cozinha!
Não me consigo esquecer que, depois de casada , ainda fiz duas derradeiras tentativas de apresentar uma refeição de jeito ao meu maridinho: a primeira era peixe no forno e tive de deitar tudo fora porque o peixe ficou cru. Também não admira : com o stress que tenho abri o forno mais de 20 vezes; da segunda vez tentei frango com caril e tive de deitar fora,para além da comida, a colher de pau que ficou amarela do excesso de caril que coloquei no frango ( um problema com os temperos, portanto)!
As minhas irmãs e primas/irmãs são do mesmo género!
A piada preferida do meu marido Pedro é dizer-nos, na cara, que a única coisa para a qual tivemos jeito foi para arranjar os maridos! E isso porque todas nós casamos com homens que são excelentes cozinheiros! E adoram ir para a cozinha ( brrr) fazer pratos gourmet !
Fico de boca aberta quando os vejo inventar pratos do mais esquisito que há, com uma mistura de ingredientes que eu diria que não resultaria nunca e que no final, além de ficarem deliciosos, têm uma apresentação requintadíssima!
Um espanto mesmo !!! É claro que têm nas mulheres as suas principais fãs! E enquanto eles estão na cozinha, nós aproveitamos para pôr a conversa em dia !
E essa coisa de inventar comidas não é comigo.Eu, só seguindo a receita e, mesmo assim,tem de ser uma coisa fácil....para loiras como eu....
Cada vez que me lembro da dificuldade que senti para perceber o que era " qb": " sal e pimenta q.b."- dizia a receita.
qb???!!!!! - pensei eu- mas o que raio querem dizer com isto? Cheguei a pensar, por momentos, que a receita tinha passado para chinês! Depois fiquei a saber que queria dizer" quanto baste" e fiquei exactamente na mesma: eu sabia lá quanto é que bastava?!!!!
Acho que já deu para perceber o que eu não percebo de cozinha!!!
Pois a Maria é do mesmo tipo e também não gosta nada.
Ainda, no outro dia, quando lhe gabei uma sopa que tinha acabado de fazer, respondeu - me em linguagem de emigrante: " but still odeio cozinhar".
Nos primeiros meses fez vezes sem conta sopa de cenoura ....que acabou por enjoar. Depois passou para outra de espinafres com courgettes ou, com pepino... Até hoje ainda não tem a certeza qual o legume que usou!
Mas a sopa ficou boa e isso é o que importa, para quem não gosta de cozinhar!
por Teresa, em 16.05.14
É difícil para qualquer pai aguentar os nervos,a ansiedade, a angústia e o mau humor das suas crianças , pequenas , ou grandes, nesta fase de testes e mais testes que tornam a vida de qualquer estudante num autêntico inferno!
Há tanta coisa interessante na vida ...e o que se lhes pede nesta altura é estudar, estudar !
Agora junte -se a tudo isto o facto de entre o estudante e os pais existir uma distância de 2000 km ....então aí sim ....é mesmo de bradar aos céus!
Não se pode mimar, aconselhar, ajudar, discutir, ouvir, apoiar, convenientemente, um filho que se encontra num outro ponto do mundo!
Por outro lado não há viber , nem Skype que nos permita perceber bem o que lhes vai na alma !
Sabemos apenas que os nervos são mais que muitos e,na maior parte dos casos,que não há nada,que se possa dizer ou fazer,para levá-los a ver as coisas um pouco mais cor de rosa.
Às perguntas que lhe fazemos respondem laconicamente com:
-Não ... Não comi nada de jeito porque ando sem apetite!
-Não... não fui ao ginásio porque tenho montanhas de matéria para estudar!
-Não...não tenho falado com ninguém porque andamos todos atrapalhados com o estudo!
Não...não ando a dormir bem e estou, até, com umas insónias terríveis!
Ao que nós, maminkas, contrapomos coisas, do género:
-Tem de comer se não fica sem forças para estudar;
-Deve de ir ao ginásio porque faz bem à cabeça e ajuda a descontrair!
-Tem de dormir e descansar à noite porque sem isso vai entrar numa espiral de nervos, e não vai ter força para sair!
Tudo isto, podem crer, causa uma angústia enorme a qualquer maminka que se preze!
A coisa agrava-se quando recebemos uma "selfie" da nossa emigrante com o ar mais infeliz do mundo,uma cara deslavada, olheiras profundas... e ouvimos a empregada,que a viu a nascer,dizer com os olhos cheios de lágrimas:
" Jesuscredo! Como está triste a nossa menina !!!!! Deve ser de tanto estudo! E ainda por cima .... sozinha.... lá tão longe.... "
É isso mesmo: longe, sozinha e com muitos nervos à mistura por causa de tanto estudar.
Nestas alturas também a nós, maminkas, nos apetece dizer:"basta, não aguento mais"!
Mas,depois, convencemos-nos que é assim mesmo... que isto faz parte da vida fora do " ninho"....que os nossos filhos são muito menos frágeis do que aquilo que imaginamos e que vão mesmo conseguir chegar à meta final.
Mas... no entretanto....coração de maminka sofre!!!!
por Teresa, em 04.05.14
Hoje, logo de manhã cedo fui bombardeada por mensagens da minha filha ,através do viber e do facebook, a desejar-me um óptimo dia da mãe e a dizer-me o quanto gosta de mim!
Imagino que todas as mães tenham tido um momento deste género! Momentos que nos fazem imensamente felizes!!!!!
Mas para nós, as MAMINKAS, hoje não podemos contar com a presença das nossas filhas, ao vivo e a cores, simplesmente porque a distância que nos separa é enooooorme!
É claro que com o avanço da tecnologia as saudades atenuam-se mas , não desaparecem!
Era costume,neste dia, reunirmos as três gerações: avó, mãe e filha.
Não posso,hoje ,deixar de agradecer também àquela que me tornou na maminka que sou hoje!
Pois é, a minha MÃE é uma pessoa fantástica, com uma filosofia de vida incrível, que me ensinou, a ser uma pessoa responsável, amiga do seu amigo,a ajudar quem mais precisa, a retirar sempre felicidade de todos os momentos da vida, a ser livre e dar hipóteses aos outros de o serem, a lutar por aquilo que quero e em que acredito,não passando por cima de ninguém e, sobretudo a ver sempre .... mas sempre....o copo meio cheio!
Obrigada mãe !
por Teresa, em 03.05.14
Ontem de manhã, passei pelo colégio onde a minha emigrante Maria andou desde os 3 até aos 15 anos.... Uma vida portanto!
Fico sempre com imensas saudades daqueles tempos em que a ía levar ( sempre atrasada ) e, ao fim da tarde, a ía buscar (sempre stressada )!
Ela pedia- me,por tudo, para a ir buscar muito cedo porque senão ficava cheia de saudades e, pior que isso, começava a ter pensamentos maus, do género que a mãe tinha morrido ,ou a tinha abandonado...
Eu, que já de mim sou a ansiedade em pessoa, e não a queria enervar a ela, saía do trabalho a mil à hora, pegava no carro também a mil e, como a distância era curta, punha- me lá no segundo seguinte!
Acho que, principalmente na infantil ( que foi o período mais crítico quanto a este assunto) nunca me atrasei uma única vez!
E era uma ternura ver aquela carinha dela com um sorriso enorme! Cada vez que me via chegar, parecia que via um Deus!
Um dia disse-me mesmo:
"Oh...mãe cada vez que te vejo vir, lá ... muito ao longe...parece que trazes um arco íris à volta da tua cabeça!"
Derreti-me ali, naquele instante! Este foi talvez o elogio que mais adorei na vida!!!!!
Mas , dizia eu, antes desta pequena divagação, que passei pelo colégio e vi montes de camionetas lá estacionadas, aguardando os alunos que iriam a uma visita de estudo.
E ...por falar em vistas de estudo... Não resisto a contar mais uma das histórias do meu sobrinho Zé , que também ontem,foi com o colégio dele,a uma visita de estudo a S. João das Lampas, em Mafra.
Quando a minha irmã chegou a casa e lhes perguntou como tinha sido o dia, o Zé disse:
- Oh mãe , fui a uma visita de estudo hoje e tive uma " ganda" sorte!
A mãe nem lhe estava a dar muita atenção, porque a tem de repartir com os outros dois, que muitas vezes falam e contam as coisas ao mesmo tempo. Aí o Zé insistiu :
- Mãe eu tive mesmo uma" ganda"sorte porque consegui um autógrafo de uma pessoa muito importante!
-Ai sim?? Mas de quem? Não estou a perceber nada!
-Foi assim : um senhor foi lá falar com a minha turma e eu perguntei ao meu colega se sabia se era alguém importante ...e ele disse-me que era o Presidente da Câmara de Mafra"
-Ah !- respondeu a mãe- e ele assinou os vossos cadernos!
- Não mãe, não foi assim. No final eu dirigi-me a ele e pedi: " o Senhor não se importa de me dar um autógrafo? " e, ele deu-me... Tive "bué da sorte "por ter conseguido o autógrafo dele!
O Zé é igual ao pai: muito sociável, nada tímido e se lhe pedirem para dançar, falar ou cantar em público ele faz, mesmo que, alguma dessas coisas, não seja bem a sua praia!
Afinal, qual é o problema?!!!!
por Teresa, em 01.05.14
Esta história dos mealheiros fez-me voltar atrás no tempo ao lembrar-me daquela sensação fantástica que surgia quando, depois de termos juntado e,tornado a juntar,todo o dinheirinho que nos davam,conseguíamos, finalmente, comprar aquela coisa LINDA de morrer que andávamos dias e dias....meses e mais meses a namorar .....
Era uma sensação única!
A espera tornava o objecto do nosso desejo no MAIOR TESOURO DO MUNDO!
Aos 13, 14 e 15 anos lembro- me perfeitamente de juntar mesadas para comprar roupas giríssimas ...Onde? Nos Porfírios!!!
O que eu adorava aquela loja! Eu e muitas mais adolescentes como eu. Quem não se recorda da fila gigante que às vezes tínhamos de enfrentar para poder entrar na loja?!!!!
Aos 18 anos "apaixonei-me" perdidamente por umas calças de ganga, todas aos remendos, que eram a novidade de uma loja acabada de abrir em Portugal pela Ana Salazar, e que se chamava: " Maçã" . As calças eram lindas....mesmo de cair para o lado... Não descansei enquanto não juntei o dinheiro para as comprar!
Acho que a Maria nunca teve muito esta sensação de ... " que bom!!!!finalmente consegui ter isto..." porque, normalmente, não medeia muito tempo entre o querer e o ter. Isto porque como filha única, primeira sobrinha de quatro tias e neta mais velha e única durante 8 anos, sempre teve alguém para lhe satisfazer,de imediato, todos os desejos!
Ainda hoje, quando nós os papinkas viajamos, trazemos-lhe sempre muitas presentes: coisas que ela queria muito ter e,outras, que nem tinha pensado ter.
Já os meus 3 sobrinhos, sabem melhor o que é esperar para conseguir ter aquilo que muito desejam . O último tesouro adquirido foi, como não podia deixar de ser, um tablet !
Todos eles têm um, mas tiveram de juntar dinheiro durante um longo ano !
A mãe explica-lhes bem quanto é que custa aquilo que querem comprar, o dinheiro que têm para o fazer e , no caso de faltar algum, que ela e o pai lhes emprestam , mas que depois eles terão de lhes pagar o valor em dívida .
Naquela altura dizem que sim a tudo, e se ainda falta algum dinheiro então, os pais poderão dar! Ainda bem....
Mas o que acontece na realidade é que,principalmente os mais novos, ainda não perceberam bem está coisa do haver e do dever.
Então no outro dia o Zé tinha ajudado a mãe a fazer umas coisas lá em casa e tinha a receber 1€, mas como ainda devia dinheiro à mãe, ela disse-lhe: " Zé vou descontar o euro de hoje nos 4 que você ainda me deve e,assim , o Zé já só fica a dever 3 euros à mãe !"
Perceberam???? Pois o Zé também não!!!
E como é que eu sei isso? Através de uma conversa que tivemos os dois,em que ele me confidenciou:
-A tia sabe que agora todos nós ajudamos a mãe e recebemos moedas em troca?
-Boa- disse-lhe eu- assim vão juntando o vosso dinheirinho para comprarem coisas que gostem!
-Pois tia...o pior é que ainda ontem ajudei a tirar a mesa, ao jantar, a mãe tinha dito que me dava 1 euro e depois....disse-me mais umas coisas e acabou por não me dar euro nenhum...
E eu, tia, praticamente ...trabalhei de graça!