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Quando falo em praticar uma actividade física penso quase sempre em dança (seja ela de que tipo for), natação, bicicleta, step, e mais numa série de coisas que implicam mexer o corpo.
Tinha até, jurado a mim mesma, nunca me meter em aulas em que uma pessoa está praticamente parada. Só de pensar nisso dava-me nervos !
Percebi que, até agora, só me preocupei com o corpo e... esqueci-me da mente.
Claro que "cuspi para o ar e caiu-me o cuspo em cima"!
Muitos anos e milhares de situações de ansiedade depois resolvi, no outro dia, ir fazer uma aula de TAI CHI.
Isso mesmo... ouviram bem: TAI CHI.
Cheguei stressadíssima à aula porque saí tarde do emprego, apanhei muito trânsito, tive dificuldade em arrumar o carro.
Mas quando lá entrei o stresse ficou à porta.
Era o fim de uma tarde solarenga e a aula foi feita nos jardins lindos de um palacete.
O silêncio era total !
As alunas seguiam os passos do Mestre, sem fazerem um som sequer.
Deu-me a a sensação até de que flutuavam no ar!
Ao longe...apenas o chilrear dos passarinhos !
E eu, que sou tão ansiosa, parei no tempo. Esqueci-me do trabalho, do carro, dos chefes e do mundo lá fora. Concentrei-me apenas nos movimentos que estava a começar a aprender.
É preciso paciência, coordenação e concentração.
Só sei que, quando terminei, a minha mente estava limpa.
Tinha esquecido os problemas e ansiedades do dia, o mundo pareceu-me mais leve e a vida mais cor de rosa! .
E que bem dormi nesse dia!
Estou numa fase em que me apetecia estar Zen e... não consigo.
Estou preocupada com tudo, tipo " Preocupadinha da Silva"mesmo!
É verdade que o trabalho está ao rubro, mas há outras coisas que me deitam mais abaixo do que o trabalho!
A minha mãe, pela primeira vez na vida, em 84 anos, começou a apresentar sinais de depressão! Deixou de ver o mundo cor de rosa como até aqui... e passou a vê-lo como ele é na realidade (ah!!!!. Já sei a quem saio, sempre tão positiva!).
Entrei, então, naquela fase em que os papéis se invertem: somos nós, os filhos, que temos de tomar conta dos pais, tal como eles nos faziam, quando em pequeninos caíamos à cama, com febre, com dores aqui e acoli... e sempre com muita mimalhice à mistura....
Pois é ...agora é a vez deles!
Comecei a acompanhar a situação mas a tarefa é mais dificil do que eu pensava, até porque ele há doentes e doentes: por um lado, os bonzinhos que aceitam fazer tudo o que se lhes diz e, por outro, aqueles que querem mandar nos médicos, recusam tomar medicamentos novos, adiam as consultas...
Pois é exactamente neste grupo maravilhoso que a minha querida mãe se inclui.
Resolvi escrever este post agora, primeiro porque já vejo melhoras significativas na disposição da minha mãe, depois porque, durante a ajuda que lhe dei deparei-me com situações engraçadas que me fizeram rir e pensar: "vou fazer um post sobre isto".
Na verdade, pensei que a coisa ía ser simples : bastava eu ficar a par de todos os remédios que a minha mãe tomava para transmitir à nova médica e ver o que se podia fazer dali para a frente.
Ora a minha mãe toma uma catrefada de remédios, desde há anos, depois de ter sido operada ao coração.
Quem sabe o nome de tudo aquilo é o meu pai que os compra e lhos dá, à hora certa, ou mais precisamente, à hora que ela decidiu que era a hora certa.
E digo isto porque chegamos à conclusão que há dois comprimidos que seriam para tomar ao deitar, o que para o comum das pessoas seria às 10h ou 11h da noite, mas que para a senhora minha mãe, é às 2 horas da manhã que é a hora em que geralmente adormece.
Comecei a perceber que as horas dos comprimidos estão todas trocadas há anos: o que ela toma ao almoço deveria ser ao pequeno almoço, o do almoço seria ao lanche e por aí fora!
Pareceu-me estar no filme errado.
Anotei tudo para dizer à médica.
Depois, sentei-me com a minha mãe, para ver que medicamentos eram aqueles, e para que serviam. A explicação foi simples e directa:
- Ao almoço tomo o comprimido compridinho, todo branco.
- Que se chama...
- Isso não sei. Pergunta ao teu pai.
- Depois , perto do jantar, é a vez daquele azul mais redondinho e um outo rosado.
- Mas, mãe, como se chamam ? E são para o coração, ou para o quê?
- Essas coisas não são comigo. Tens de perguntar ao teu pai.
- Mãe - digo eu já desesperadissima - mas temos de saber o que estás a tomar, para dizer à médica.Vamos até pedir que te receite um antidepressivo- explico eu.
- Ó filha mas para quê?! Eu não preciso de remédios novos. Dou-me muito bem com o que estou a tomar.
- Mãe, estás deprimida e é por isso que precisas de um antidepressivo .
- Não preciso, filha! Eu já tomo um anti-calmente!!!!
Achei delicioso!
Só a minha maminka....
Pois é, ultimamente tenho andado muito afastada das minhas bloguices (como eu costumo dizer) por motivos pessoais, que só interessariam se estivesse a escrever um diário, o que não é o caso.
Lembro-me que em nova, sempre que me acontecia uma " desgraça", eu escrevia páginas e páginas do meu diário, como que a desabafar contra o mundo!
E depois chorava até mais não!
Hoje, muitos anos depois, apercebo-me que, não só mudou a ideia de "desgraça",como mudou também o modo como reagimos perante a mesma!
Na adolescência a desgraça podia ser causada apenas por uma borbulha que aparecia sem avisar, e que teimava em nos estragar a beleza.
A nossa reacção era péssima: irritávamo-nos, deitávamos a casa abaixo, não tinhamos a certeza se a culpa não seria da nossa mãe, ou, até da nossa irmã, que poderiam ter conspirado contra nós. Era mais que certo rejeitar o convite do namorado para sair, por causa daquela maldita borbulha!
Sentiamo-nos feias, bruxas horríveis!
Mas desgraça era também a irritação por não termos ainda arranjado namorado (a culpa era de alguém,de certeza), ou por nos termos zangado um com o outro (caso tivéssemos um) ou por estarmos apaixonadas por alguém que não nos ligava pêva (mas porquê...se sou tão gira?).
E...sim...reagiamos muito mal: chorávamos, soluçávamos, borrávamos a pintura, sentiamo-nos os seres mais infelizes e miseráveis ao cimo da terra!
Hoje, a muitos anos de distância, quem me dera a mim que todas as desgraças continuassem a ser essas.
Infelizmente, agora o que nos faz sofrer são as doenças e as mortes que vão acontecendo à nossa volta, umas mais longe, mas que não deixam de nos impressionar e, outras, que nos afectam directamente e nos deitam completamente abaixo.
Que falta me faz o meu diário para poder escrever, escrever, escrever até voltar a fazer as pazes com o mundo!
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