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Onde estava no dia de hoje, há 41 anos atrás?
Recordo-me que eu e a minha irmã nos estávamos a arranjar para ir para o colégio, enquanto a nossa irmã bébé,nascida poucos meses antes, dormia descansadamente no berço.
Lembro-me de uma agitação estranha lá em casa, dos meus pais a falarem em surdina, sobre coisas que nunca tínhamos ouvido falar até ali.
Depois...lembro-me do telefone tocar, e do meu pai o atender com um semblante carregado, respondendo sempre de forma lacónica .
Seguiu -se uma troca de palavras com a minha mãe e depois foi dada a primeira ordem às filhas:
-Hoje não vão ao colégio!
-Mas porquê?-perguntamos.
-Porque neste momento há militares com tanques na rua ...parece que querem derrubar o governo. Não sabemos o que vai acontecer e portanto é melhor não saírem de casa.
Como até ali eu brincava mais era com bonecas, não fazia a mínima ideia de quem queria derrubar o quê , de que governo falava o meu pai, que militares eram aqueles.
Depois lembro-me da palavra "tanque" me ficar a matutar na cabeça e, de repente, entrar em pânico!
Seria uma guerra com mortos e feridos, bombas, tiros?!
Disseram-me para ficar descansada porque o que saía das espingardas eram cravos, não fogo!
Cravos?! Como era estranho tudo aquilo!
Passados anos, posso dizer que foi naquele dia que tive a minha primeira experiência de liberdade: podía faltar à escola e ficar a brincar todo o dia em casa!
E não era por estar doente, não ! Era tudo graças a essa tal revolução dos cravos!
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