por Teresa, em 21.10.14


Jurei a mim mesma que ía odiar Praga ! Para sempre! Nunca, na vida, iria mudar de ideias sobre isso!
Não haveria nada, nem ninguém que me fizesse pensar o contrário!
Lembro-me que, na altura em que essa jura foi feita, o sentimento era o de que todas as forças do mundo se tinham juntado contra mim!
Só podia! Afinal, e como já escrevi anteriormente , a minha filha Maria tinha acabado de fazer um exame que a fez entrar na Faculdade de medicina ... em Praga! E não estávamos a falar em ficar longe 6 meses ou 1 ano, não ! No mínimo, tratava-se de uma separação de 6 anos!!!!!
A partir daí.... nada feito... Virei costas à cidade! Culpei-a como qualquer mãe galinha o teria feito!
Passaram 2 anos desde então, e estou neste momento no avião, a poucas horas de voltar a aterrar em Praga pela terceira vez! E quase...quase a abraçar a Maria!
As pazes com Praga e com a República Checa, estão feitas! É impossível não ficar seduzida pela beleza de Praga, que tem tudo para ser uma das cidades mais bonitas da Europa!
Depois há outra coisa que para mim é muito importante: Praga é uma cidade onde a Maria adora viver, estudar e que a tem tratado muito bem !
E a maminka não podia estar mais feliz!
por Teresa, em 30.09.14
A Maria regressou ao seu novo país para continuar os estudos e eu voltei a ser maminka outra vez.
Tem de ser ... eu sei.... mas depois de três meses todos juntos, a separação é ainda mais difícil!
Hoje, ao fim da tarde, entrei em casa e ainda tive a tentação de espreitar pela porta entreaberta do escritório, onde habitualmente a Maria costuma estar quando chegamos do trabalho...e quase ía jurar que a vi levantar-se para vir ao nosso encontro para nos cumprimentar com o habitual " oi gatos!"
É isso: estou já com imensas saudades!
Eu sei que o Skype, o viber, as mensagens, o telemóvel, o computador, e outras coisas que tais, podem ajudar a que o longe se torne perto.
Mas neste momento a única coisa que me anima é sabê-la feliz mesmo estando num outro canto do mundo!
por Teresa, em 03.05.14
Ontem de manhã, passei pelo colégio onde a minha emigrante Maria andou desde os 3 até aos 15 anos.... Uma vida portanto!
Fico sempre com imensas saudades daqueles tempos em que a ía levar ( sempre atrasada ) e, ao fim da tarde, a ía buscar (sempre stressada )!
Ela pedia- me,por tudo, para a ir buscar muito cedo porque senão ficava cheia de saudades e, pior que isso, começava a ter pensamentos maus, do género que a mãe tinha morrido ,ou a tinha abandonado...
Eu, que já de mim sou a ansiedade em pessoa, e não a queria enervar a ela, saía do trabalho a mil à hora, pegava no carro também a mil e, como a distância era curta, punha- me lá no segundo seguinte!
Acho que, principalmente na infantil ( que foi o período mais crítico quanto a este assunto) nunca me atrasei uma única vez!
E era uma ternura ver aquela carinha dela com um sorriso enorme! Cada vez que me via chegar, parecia que via um Deus!
Um dia disse-me mesmo:
"Oh...mãe cada vez que te vejo vir, lá ... muito ao longe...parece que trazes um arco íris à volta da tua cabeça!"
Derreti-me ali, naquele instante! Este foi talvez o elogio que mais adorei na vida!!!!!
Mas , dizia eu, antes desta pequena divagação, que passei pelo colégio e vi montes de camionetas lá estacionadas, aguardando os alunos que iriam a uma visita de estudo.
E ...por falar em vistas de estudo... Não resisto a contar mais uma das histórias do meu sobrinho Zé , que também ontem,foi com o colégio dele,a uma visita de estudo a S. João das Lampas, em Mafra.
Quando a minha irmã chegou a casa e lhes perguntou como tinha sido o dia, o Zé disse:
- Oh mãe , fui a uma visita de estudo hoje e tive uma " ganda" sorte!
A mãe nem lhe estava a dar muita atenção, porque a tem de repartir com os outros dois, que muitas vezes falam e contam as coisas ao mesmo tempo. Aí o Zé insistiu :
- Mãe eu tive mesmo uma" ganda"sorte porque consegui um autógrafo de uma pessoa muito importante!
-Ai sim?? Mas de quem? Não estou a perceber nada!
-Foi assim : um senhor foi lá falar com a minha turma e eu perguntei ao meu colega se sabia se era alguém importante ...e ele disse-me que era o Presidente da Câmara de Mafra"
-Ah !- respondeu a mãe- e ele assinou os vossos cadernos!
- Não mãe, não foi assim. No final eu dirigi-me a ele e pedi: " o Senhor não se importa de me dar um autógrafo? " e, ele deu-me... Tive "bué da sorte "por ter conseguido o autógrafo dele!
O Zé é igual ao pai: muito sociável, nada tímido e se lhe pedirem para dançar, falar ou cantar em público ele faz, mesmo que, alguma dessas coisas, não seja bem a sua praia!
Afinal, qual é o problema?!!!!
por Teresa, em 10.04.14
Todos os pais de emigrantes, são assaltados, a dada altura, por uma dúvida que mexe com a sua paz de espírito e faz tremer as suas certezas : será mesmo que findos os estudos os nossos filhos regressam a Portugal?
Ao longo do tempo vamos tendo indícios que tanto nos fazem pender para um lado, como para o outro : Ah... está a dizer isto porque de certeza que vai voltar ou, então.... se está a falar assim desta forma...não volta mais....
Esses indícios são como que pequenos focos de incêndio que, se formam aqui , acoli.... E que nos atormentam a alma !
Para voltarmos à nossa tranquilidade habitual e acabar com pensamentos negativos,não há nada como irmos apagando esses pequenos fogos, à medida que os mesmos vão surgindo .
Foco de incêndio 1
-Conheci uns estrangeiros que são o máximo! -diz a nossa filha! ( o fogo está ateado!)
Ai...socorro...que a minha filha está a simpatizar com tudo que é estrangeiro -penso eu - e digo :
-Sim,mas não há como os portugueses ! A mim nunca me passou pela cabeça casar com um estrangeiro!( tentativa de apagar o fogo)
-Tem piada : eu não me importava nada !- ouço-a responder, percebendo que a minha tentativa tinha falhado!
-Ah ! Olha o Salvador, ou o Frederico! Esses sim... Agora um estrangeiro ?!!!!! Nem sabemos bem o que estão a pensar....Ainda se fosse o Brad Pitt ...- insisto eu , na esperança de que mude de opinião!
-Mm .... és capaz de ter razão, maminka! É preferível um português! - conclui ela.
Foco de incêndio apagado,a pulsação volta ao ritmo normal e ....o coração começa a bater compassadamente!
Foco de incêndio 2
-Tive excelente na cadeira daquele professor que me adora e ele até me disse que qualquer dia posso vir a ser monitora! ( outro foco de incêndio ateado)
-Mas... não estou a perceber-digo eu , ao mesmo tempo que sinto o coração começar a bater forte e a pulsação a acelerar :serias monitora enquanto tiras o curso ou, depois de o tirares?
- Para já enquanto faço o curso!
Ufa ! Então quer voltar a Portugal- penso eu! Acho que este foco de incêndio está extinto!
Foco de incêndio 3
-Este país é lindo! Adoro neve! -começa a nossa emigrante por dizer , dando origem a m novo foco de incêndio! Posso patinar, esquiar ...e fazer montes de coisas fantásticas! -continua.
(Vai querer ficar no novo país- penso logo eu!)
-Sim...mas não te esqueças que em Portugal tens as praias , que tanto adoras!- contraponho eu
-Ah...sim é verdade! Eu amo a praia , o sol, o mar e estar bronzeada!
Boa! -penso-Portugal ainda é o país de eleição, sem dúvida!!!!! Fico serena e feliz !
Mas ao certo, ao certo, nem nós sabemos, nem ela sabe!....
O futuro é perito em reservar-nos surpresas !
Depois há o meu coração de maminka que me faz acreditar que ela um dia vai voltar ! É isso que sinto quando a ouço dizer:
" quero Portugal de volta" , "estou quase aí... ", "quero praia , já! ", " morro de saudades vossas "
E eu sei que sim......ela vem....ela volta!
por Teresa, em 04.04.14
Sempre tive uma empatia muito grande com a " Anita"!
Quem,como eu,cresceu com os livros da " Anita" sabe bem do que eu falo.
Não me lembro qual foi exactamente o primeiro livro que tive na vida . Mas se me perguntarem qual o primeiro de que tenho memória , diria : " Anita,dona de casa" .
Foi-me oferecido pela minha madrinha e eu adorava folheá-lo detrás para a frente!
Gostava tanto daquele livro que acho que criei uma falsa esperança na minha maminka de que, provavelmente, viria a ser uma dona de casa perfeita. Mas....não! Longe disso! Provocou até um efeito adverso em mim...mas isso agora não interessa nada!
Quem me fascinava muito era a própria Anita, que sorria a tempo inteiro, fazia muitas coisas e ajudava quem mais precisasse. Adorava também o cão que ela tinha: o Pantufa!
E foi com esse mesmo entusiasmo que fui lendo todos os livros da colecção : "Anita e as 4 estações ( que hoje em dia já está out porque só temos mesmo duas estações: verão e inverno) "Anita na escola","Anita no supermercado", "Anita mamã"em que ela ajudava a tratar dos irmãos .... Enfim...Anita em todo o lado....
É fantástico como nem precisei de ir à net procurar ou confirmar os títulos dos livros: sei-os todos de cor!
Hoje já não sou mais aquela criança que devorava as histórias da "Anita" mas trago-a à pedra porque no outro dia vi no facebook que a foram desenterrar, e inventaram um título adequado aos dias de hoje! E eis que surgiu "Anita procura emprego no estrangeiro!"
Fiquei,então,duplamente emocionada: recordei aquela imagem da Anita alegre,bem disposta e sempre jovem( velha estou eu!) e, lembrei-me, que tal como os nossos filhos, também "a Anita" não conseguiu escapar à crise e precisou de emigrar!
Nostalgia de mais para uma maminka!!!!!
por Teresa, em 24.03.14
Pais
Sentem como que um murro no estômago , misturado com um vazio na cabeça, seguido de uma espécie de surdez momentânea : o quê? Ir fazer a faculdade lá fora? ???? E nós e o resto da família ??? 6 anos longe... Fora de Portugal...Já pensaste?????? ( claro que já tinha pensado... nós é que não!);
Avós
Mais liberais do que os próprios pais acham importante proporcionar essa liberdade à neta ,porque sempre a consideraram uma pessoa com uma cabeça organizada, uma personalidade estruturada , que sabe bem o que quer e que assume as consequências das suas próprias escolhas .
Tias maternas
Como é possível deixar-se a família????E o país?!!! A elas, nunca lhes tinha passado tal ideia pela cabeça! Nunca teriam ousado tal coisa! Mas a sobrinha era capaz!!!!!
Admiram a sua coragem, o seu espírito aventureiro e sentem orgulho nela! Mas, rezam baixinho e, com bastante devoção, para que nenhum dos filhos venha a ter uma ideia do género!
Tias paternas
Neste caso, a sobrinha é para elas quase que uma filha e, por isso, também não deixaram de sentir o tecto desabar-lhes em cima da cabeça com a decisão tomada! Mas são realistas, práticas e perceberam que talvez este fosse o caminho mais acertado para ela !
Primas mais velhas
" Que máximo! A minha prima é tão "cool"! Deus queira que um dia também consiga fazer o mesmo! "
Primos mais novos
O quê? A prima vai embora? Já não vai estar cá nos nossos anos, no Natal? Vai para muito longe? Quando volta?
Afilhado (na altura com 5 anos )
"Como a madrinha vai ser a minha médica, preciso de saber uma coisa: sou eu que tenho que ir de avião mostrar a minha doença à madrinha, ou é ela que vem ver o que eu tenho? "
Melhores Amigas
Choraram imenso e só diziam:" nada vai ser igual contigo longe! As saídas à noite vão ser bem menos divertidas sem ti !"
Entretanto já passou um ano e meio e a Maria tem vindo cá imensas vezes para matar as muitas saudades que temos dela e ela, nossas, incluindo os Natais e alguns aniversários !
Se é fácil? Claro que não!
Mas o tempo ajuda a que, a pouco e pouco, nos vamos adaptando à nova realidade!